segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um dia na Ilha da Berlenga

Portugal é um país com poucas ilhas junto à costa. Uma delas, bem conhecida, é a do Pessegueiro. Bem, aquilo na realidade é uma ilhazinha a 300 metros da praia. Quanto ao arquipélado das Berlengas, a coisa já é um pouco diferente. A ilha da Berlenga situa-se a 10 km do cabo Carvoeiro, e para lá chegar é necessário atravessar um mar com um humor muito próprio. Por causa dessa disposição variável, já tivémos uma viagem, há uns anos, cancelada, pois o barco não conseguia atracar no cais do único porto da ilha.
No dia 15 de Agosto do  ano passado, depois de termos reservado os bilhetes pela internet, pusémo-nos a caminho de Peniche para, finalmente, irmos conhecer mais uma maravilha desconhecida para  a  grande maioria das pessoas.

 Há várias empresas que realizam viagens para a Berlenga. Nós escolhemos a que possui o barco mais emblemático, e que também leva mais gente.
http://www.viamar-berlenga.com/
 O Cabo Avelar Pessoa é uma embarcação que leva até 150 pessoas. Na altura do bom tempo, faz duas viagens de ida e volta. Nós optámos pela horário das 11h30 horas da manhã com regresso às 18h30. Quem escolhe o horário mais madrugador também tem de regressar mais cedo.


Os primeiros 15 minutos de viagem são agradáveis. O barco sai calmamente do porto, passa a barra e segue o percurso paralelo à costa sul da península de Peniche.


E pouco tempo depois estamos a passar junto ao Cabo Carvoeiro, com o seu farol.

A zona entre o Cabo Carvoeiro e as ilhas Berlengas é uma zona muito rica em peixe devido às correntes marinhas, com imenso plancton aabundante, provocadas pelo canhão submarino da Nazaré, que tem mais de 3 km de profundidade. Nesta zona junto ao Cabo, há imensas aves marinhas, a maioria gaivotas.
Ora essas correntes criam agitação à superfície, e foi a partir daí que ficámos a conhecer a famosa ondulação tão típica e falada por quem já a experimentou.
Para marujos de água doce como nós, foi mesmo uma prova de baptismo. De repente, sem darmos conta, começam a surgir ondas atrás de ondas, que fazem o Avelar Pessoa, ora subir ora descer vários metros de cada vez. E, de vez em quando, ondas laterais obrigam-no a inclinar-se lateralmente. Os primeiros mergulhos, não esperados, provocam-nos algum receio, e temos de nos agarrar bem ao banco para não sermos projectados pelo convés fora. Claro que podiamos estar no interior fechado do barco, mas não tinha tanta piada. De vez em quando, somos salpicados pela água de uma onda que ao embater no costado do barco, se espalha por todo o lado.
E assim, temos 30 minutos de montanha russa até chegarmos ao porto. Mas pelo vistos, este tipo de ondulação é perfeitamente normal, e muitas vezes é bem pior, e por isso, é que é as viagens são canceladas.


O porto fica numa pequena enseada que tem a única praia de areia fina da ilha e que, àquela hora, estava mesmo a convidar-nos para um mergulho numa água com tons esverdeados.




No entanto, como o nosso principal objectivo era conhecer a ilha a pé, deixamos o cais começamos a subir um caminho acimentado pelo meio do Bairro dos Pescadores, o único aglomerado habitacional da ilha. Estas pequenas casas dão apoio a alguns pescadores da zona de Peniche. Há também instalações de apoio a um pequeno parque de campismo que fica logo acima, na encosta.
No pequeno porto, estão vários pequenos barcos que são utilizados para mostrar algumas das belezas da ilha vistas do mar, nomeadamente algumas grutas e reentrancias nas falésias.



Em pouco mais de 10 minutos a subir, chegamos a um ponto em que podemos ver o mar para o outro lado da ilha. Aqui está uma enseada muito parecida à do porto, mas com um praia praticamente sem areia e mais desolada.
 Ao chegarmos ao topo da encosta, temos uma visão mais abrangente do porto e do Bairro dos Pescadores. À esquerda (não se vê), fica o parque de campismo.


O caminho, bem pavimentado, leva-nos junto ao farol. A ilha é muito árida e ventosa.

E, voilá, é o reino das gaivotas. É o sítio, em Portugal, onde existem mais destas aves por metro quadrado.


Aliás, há quem diga que há uma sobrepopulação destes bichos na Berlenga. Nesta foto, podemos ver ao fundo os Farilhões, onde também há um farol.


O impressionante com as gaivotas, para além do seu impressionante número, é o barulho constante e ensurdecedor. E quando se levanta um bando, há logo vários que o seguem, aqui com os rochedos das Estelas em pano de fundo.


O percurso a partir do farol é relativamente plano, embora agora em terra batida. A partir do topo deste antigo reservatório de água temos uma panorâmica de quase toda a parte mais alta da  ilha.


O percurso, desde o porto, até ao extremo sudoeste da ilha a que é possível chegar, tem pouco mais de 1 km de extensão, e faz-se relativamente bem. Neste dia, sendo Domingo, havia muitas pessoas a passearem pela ilha. Pelo que percebemos, podem estar na ilha até 300 visitantes por dia, e esse número não devia andar longe disso.


O percurso termina junto a penhasco que tem ao mesmo tempo o seu quê de belo e perigoso.


Claro que para os habitantes donos do sítio, estes rochedos são um óptimo lugar para se estar a apreciar a paisagem.


Mas a paisagem é mesmo deslumbrante. Estes diferentes tons de azul são mesmo convidativos. O mar da Berlenga é um excelente local para mergulho,  e é muito procurado não só pela beleza e riqueza da fauna e flora submarina, mas também porque existem na zona vários navios afundados que atraem a curiosidade dos mergulhadores. 


Uma outra atracção da ilha é o forte de S. joão Baptista, agora convertido numa pousada.


Claro que também nos apetecia ter um barquito para poder passear nestas águas cristalinas.



Resolvemos descer uma espécie de escadaria cavada na rocha para visitar o forte.


A descer todos os santos ajudam. Fomos parando para apreciar melhor as vistas.


O forte faz lembrar os tempos dos piratas. Pelo que se diz, no inverno, naqueles dias mais rigorosos, esta ponte fica intransitável, pelo que o forte fica mesmo isolado.


Esta reentrância do mar é simplesmente magnífica.



Até é de admirar como é que esta ponte nuca foi abaixo. Se calhar, até já foi.


Por falar em piratas, a ilha tem muitas cavidades, algumas delas verdadeiras grutas, onde era possível guardar o tesouro.


A alguns desses buracos misteriosos só  se chega lá de barco.


É impressionante a quantidade de peixes que se podem observar.


Ma quem manda mesmo na iha são as gaivotas.


Estão por todo o lado.


Não é que aprecie muito as gaivotas, mas algumas têm personalidade.


Aqui temos uma gaivota junior.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A Arqueologia do Rock

Gostos musicais não se discutem. Ou se gosta, ou não se gosta, ou se aprende a gostar. Apesar de a minha adolescência ter sido vivida em plenos anos oitenta, a música dessa década não é a que mais me inspira. Nessa altura, comecei por apreciar as músicas calmas do Oceano Pacífico e os singles do Viva o Velho. Lembro-me bem do verão de 82 em que me fartei de ouvir as músicas de 2 cassetes que tocavam naqueles leitores portáteis pretos apenas com um altifalantes. Uma tinha de um lado Chopin, e do outro o Bolero de Ravel. A outra casssete, mas longa, continha uma colectânea de grandes êxitos dos sixties, gravada pelo Zé Rodrigues, meu primo em segundo grau, e já falecido. Portanto, para além de canções como S.Francisco, do Scott Mckenzie, e outras do género, acabei como por conhecer Deep Purple e a seguir os Iron Maiden e Scorpions. Como via quase todas as semanas o Top Ten, claro que gostar de Bryan Adams de Bruce Springsteen também não era muito difícil.
Com os meus 15 ou 16 anos, e já em Bragança, onde fiz os 10º e 11º anos do liceu, entrei em contacto com Rolling Stones graças ao meu amigo Gabriel, que, julgo, tinha a colecção completa deles, a qual tinha sido ganha num concurso qualquer quando vivia no Brasil. Foi na Forró, a discoteca improvisada contígua à garagem da casa dele, que quase todos os Domingos à tarde me fartei de ouvir também Led Zeppelin, Marillion e outros.
Por coincidência, tive um colega de quarto no primeiro da faculdade em Braga, o Filipe, que era completamente maluco pelos Led Zeppelin. Foi por causa dele que acabei por entrar numa aula práctica de Álgebra Lienar, de auscultadores colocados a ouvir The Song Remains the Same, do duplo álbum do mesmo nome.
Apesar de curtir os Led e claro também os Deep Purple, foi com o Baptista e companhia que passei para sons mais pesados, tipo Metallica, ainda com sons de trash metal.  No terceiro ano, era normal estudarmos Mecânica Quântica ao som de Master of Puppets.
O mais interessante para mim, além dos sons em si, é descobrir a origem desses sons. Ainda outro dia, vi um clip, em que o Tommi Iomi dos Black Sabbath explica como chega aos riffes do primeiro álbum, e como  aquele som é completamente diferente do que era feito até ali.
Não percebo nada de guitarra e, se calhar por isso,  dou muito valor a quem toca bem esse instrumento e outros. Aprecio sobretudo sons da pesada, mas que ao mesmo tempo sejam melódicos. E se forem os originais, tanto melhor. Para isso, temos de ir à segunda metade da década de 60 e aos primeiros anos de 70 para descobrir os verdadeiros inventores do hard rock, com ramos diferentes mas igualmente interessantes, desde o heavy metal, passando pelo rock sinfónico e mesmo em muitas variantes mais comerciais,  e se calhar menos puras.
 



Termino esta introdução com esta versão ao vivo de Smoke on the Water, cujos riffes são provavelmente os mais conhecidos de toda a história do hard rock. Este Ian Guilan é, para mim, uma das vozes mais potentes de todos os tempos.